Ruído de comunicação: frases de negação

Neste texto vou contar uma experiência que vivi. Ela foi significativa na época, hoje se tornou engraçada e me parece relacionada à humanização no atendimento e ao efeito de ruído de comunicação, no qual a mensagem é prejudicada. Provavelmente, a história será divertida para você, ou assim espero. Confira!

O alerta da enfermeira

Eu havia passado por uma cirurgia de emergência. Dias depois, no meio da madrugada, a enfermeira entrou para limpar um dreno que tinha no abdômen. Uma senhora experiente e com uma frieza bastante peculiar. Ela levantou a bolsa do dreno, me olhou nos olhos, levantou novamente a bolsa e repetiu o procedimento mais duas vezes — pareceu um tempo interminável. No final, me olhando fixamente, disse: “Ih! Sua operação não deu certo! Não! Não! Não! Não! Não! Vou precisar falar com o médico. Olha a cor dessa secreção! Está tudo podre por dentro, eu sei. Depois de 30 anos como enfermeira, eu sei. Precisa uma operação urgente! Mas fique tranquilo, vou alertar o médico e cuidaremos de você!” Ora! Depois do susto, minha conclusão foi a de que a enfermeira tinha algum problema. Melhor nem dar bola, ou o efeito de se impressionar poderia prejudicar a recuperação que, é preciso admitir, não ia mesmo muito bem.

A tentativa do médico

Logo cedo, o médico entrou no quarto e, com uma expressão aflita estampada no rosto, foi logo me “tranquilizando”: “Acabo de olhar seus exames e está tudo bem. Vamos fazer apenas um procedimento padrão por garantia. Iremos fazer como que uma lavagem interna. Para isso, vamos fazer uma cirurgia, nada demais.” “Você vai receber uma anestesia geral, mas é um procedimento padrão. Quem vai operá-lo é um dos maiores especialistas do país. Acaba de pousar de helicóptero. Você deu sorte, ele vai dar uma aula para os cirurgiões residentes.” Foi quando entraram os enfermeiros para, imediatamente, me levar para a cirurgia. Nos corredores, vi um filme da vida projetado na imaginação e, chegando ao centro cirúrgico, logo após receber a anestesia, dormi ouvindo o barulho do assistente batendo forte nos equipamentos e dizendo: “Eu já pedi para arrumarem isso! Como vão monitorar os sinais vitais dele?”

A o efeito da frase negativa

Obviamente, o médico não foi muito convincente em sua fala. Mais do que o que ele disse, me marcou o que não disse. É como opera a comunicação. Outro bom exemplo é a frase: “não pense em um elefante cor laranja”. Muito provavelmente, você não pensaria em um paquiderme de cor estranha, mas o que veio a sua cabeça ao ler o comando? Justamente o que ele sugeriu para que não fizesse. Esse efeito, de ruído de comunicação,  ocorre o tempo todo no atendimento. Quando a recepcionista afirma ao paciente que um procedimento é seguro, sem que ele questione, ele pode passar a se preocupar. Quando um enfermeiro comenta que a injeção não causa dor, por aumentar a expectativa com a picada, por exemplo. E você? Lembra de algum exemplo para compartilhar? Use os comentários abaixo! Fotos: Designed by Freepik