Seu negócio está preparado para o fim do isolamento?

Quanto maior for o período de parada das empresas, mais duro será o retorno às atividades ao fim do isolamento. E não precisa ser um gênio para chegara a essa conclusão, basta verificar o caixa.

Também não deve ser uma surpresa a ideia de que a esperança de voltarmos à condição anterior à crise não é muito realista. Alguns públicos específicos podem até ignorar os riscos e voltar ao comportamento antigo, inclusive o de compra, mas muitas pessoas vão apertar o cinto, o que cria um novo cenário.

Porém, a intenção aqui não é contextualizar a situação em todos os seus detalhes logo na introdução. O importante é que você saiba que abordarei essas possibilidades no texto e que o farei com base em uma situação conhecida: a da Smithfield Foods, uma indústria estadunidense de processamento de carne suína.

Observar o que ocorreu pelo resto do mundo é um passo importante. Afinal, essa é uma experiência nova para todos e o processo aqui no Brasil começou depois. Melhor do que adivinhar o que vai ocorrer é se basear no que ocorreu. Por isso, já mencionei uma solução da Asics para um evento cancelado e agora apresento o de uma operação essencial. Confira mais esse caso!

O caso da Smithfield Foods

Com sede na Virgínia, a Smithfield é um conglomerado bilionário que processa aproximadamente 5% da carne suína dos EUA. Atualmente, o empreendimento é de propriedade de um grupo chinês. Como exerce uma atividade essencial, a empresa manteve-se ativa enquanto foi possível. Ainda assim, precisou interromper suas atividades em abril.

Evidências apontam para a associação entre a transmissão do COVID-19 e os alimentos ou suas embalagens. Por isso, a empresa foi obrigada a parar suas atividades, pois já não tinha como sustentar suas operações — em alguns casos por falta de funcionários saudáveis, em outros por risco de contaminação de boa parte deles.

As fábricas fechadas

Do mesmo modo, ocorreu com a Tyson Foods em sua fábrica em Columbus Junction, Iowa, depois de mais de 24 funcionários terem testado positivo para o coronavírus. Enquanto isso, a JBS USA — nossa conhecida —, interrompeu temporariamente suas operações de processamento de carne bovina em Souderton, Pensilvânia. No mesmo estado, a Cargill parou o processamento de proteínas em Hazleton.

Voltando ao caso da Smithfield, a maior dentre as mencionadas, algumas das fábricas fechadas foram: a de Missouri; Wisconsin; e Dakota do Sul. Em razão dessas medidas, a cadeia de suprimento de alimentos estadunidense foi ameaçada.

As fábricas de embalagem de Cudahy, Wisconsin e Martin City também foram fechadas, sendo que a de Sioux Falls, na Dakota do Sul, 120 familiares dos 518 colaboradores testaram positivo — maior fonte isolada de casos dos EUA.

Os possíveis gargalos do fim do isolamento

A fábrica de Martin City recebe matérias-primas da fábrica fechada de Sioux Falls, o que ajuda a inviabilizar o seu funcionamento, demonstrando um efeito dominó que não se limita à empresa, mas atinge toda a cadeia produtiva de carne suína. Além disso, evidencia que o maior gargalo não está na produção primária, mas na transformação e na distribuição.

Outro aspecto-chave é que a Smithfield adotou os protocolos indicados para proteger os colaboradores, como verificação de temperatura, compra e uso de equipamentos de proteção individual. Qualquer funcionário doente era isolado em licença remunerada. Sendo assim, o que deu errado? Como isso pode afetar outras empresas no fim do isolamento.

As bases para um retorno seguro

Antes de tudo, é importante mencionar que é cedo para culpar uma ou outra marca pelo problema, especialmente porque precisamos da indústria de alimentos em funcionamento, o que justifica o risco de manter a operação em um primeiro momento. Além disso, as medidas de proteção e mitigação de risco parecem terem sido tomadas. Muito embora, isso já seja questionado. Apesar disso, elas não funcionaram plenamente, o que demonstra que temos um controle muito limitado da situação.

Contudo, a conclusão mais significativa dessa história é a de que o fim do isolamento pode piorar a condição da empresa. Não há garantia de que os clientes estarão dispostos a comprar, tão pouco que seja possível garantir a capacidade operacional por um período mais longo. Isso não significa dizer que não devemos interromper o isolamento, nem justificar o contrário, mas que temos mais detalhes para voltar nossa atenção, considerar em nossas decisões e na construção de uma boa experiência.

As bases da nova economia

Para minimizar o risco que comprometeu a Smithfield, muitas empresas buscam comprar testes e adotam programas muito bem planejados de acompanhamento. Elaborados por empresas especializadas, eles envolvem métodos padrão e testes mais confiáveis que os kits rápidos, que não detectam as contaminações recentes — eles identificam anticorpos, que demoram alguns dias para serem produzidos em quantidade suficiente.

Parece que, para garantir o mínimo de segurança, é preciso capacitar a equipe para lidar com uma nova realidade. Além disso, até quem tenhamos uma vacina ou um remédio efetivo, possivelmente alternaremos entre períodos de maior ou menor distanciamento e precisaremos aprender a lidar com medidas de proteção. Estamos inaugurando uma nova economia e ela será mais evidente ao fim do isolamento.

Uma atualização importante!

Algum tempo depois que este conteúdo foi publicado parece claro que os frigoríficos são uma caso mais grave. A contaminação nesses espaços parece ser favorecida em razão da temperatura do ambiente, das condições de trabalho e outros fatores que, nas verdade, ainda não estão perfeitamente determinados.

Por isso, ao pensar o fim do isolamento e a forma de se preparar para ele, é fundamental distinguir o seu caso dos demais. Aliás, esse parece ser o grande problema de uma determinação centralizada nos governos, que são estruturalmente incapazes de decidir de forma a atender uma grande diversidade de situações com eficiência, o que tem relação direta com o ambiente empreendedor brasileiro.

Sobre esse mecanismos perverso, confira a postagem: Entre as dificuldades para empreender no brasil: o governo.

Fotos: Designed by Freepik

2 Comentários

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